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“O que eu vou fazer com duas filhas com defeito?” Que tipo de mãe pergunta isso?

por Isabela Martin - 26/05/2024 às 10:58

Quando nasce uma mãe, nasce o maior medo. Na primeira noite na maternidade, com minhas filhas gêmeas na UTI, tive medo. Medo por não saber qual a condição especial delas.

Daquele dia, guardo uma grande vergonha. De madrugada, falei para Deus: “o que vou fazer com duas filhas com defeito?”. Que tipo de mãe pergunta isso?

Nada justifica tal pensamento.

Quando nasce uma mãe, nasce a culpa.

Por anos escondi essa lembrança. O que eu não entendi na época é que era tudo medo. E que aquele pensamento infeliz não traduzia o amor que eu tinha por elas. Aos poucos, me permiti sentir a felicidade por tê-las. Se cada vida é um milagre, a delas tem sido uma sucessão deles. Cada dia ao lado delas, cada conquista, é uma reverência que faço.

Não me interpretem mal: esses milagres não são acaso. São um monte de “faz por ti que te ajudarei”, somado à fé, à persistência, a desafiar limites: os meus e os delas. Como já mencionei no 1º artigo (acesse #IsabelaJoanaJuliana), até elas terem quase 14 anos não tínhamos diagnóstico. E é preciso bravura para enfrentar o desconhecido. Não sei qual será a linha de chegada. A meta é pegar distância da largada.

Escrever sobre essa história tem sido libertador. Também requer coragem, porque estamos nos expondo. Juliana e Joana sabem e leem esses artigos. Elas se emocionaram quando leram o primeiro. Juliana me agradeceu “por nunca ter desistido” dela.

Sejamos incansáveis nas batalhas pela inclusão. E deixe-os saber o quanto são amados. Amar também é dar autonomia aos filhos e, por vezes, significa tirá-los da zona de conforto e da sombra da vitimização.

Espero ajudar outros pais que sofrem e se recolhem na solidão. Ainda me pego com pensamentos que parecem armadilhas. Aí vejo a estrada que percorremos e as possibilidades que se desenham para elas. Vejo o quanto ser mãe delas me fez conhecer que generosidade e amorosidade têm rosto, forma, voz, coração. E eu tenho isso em dobro. No final das contas, elas estão me consertando. Talvez essa seja a resposta à pergunta que tanto me envergonhou.

▫️ Isabela Martin, mãe da Joana e da Juliana, é diretora de Jornalismo e Esportes da Jangadeiro.

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