Em torno da mãe criou-se o mito da força absoluta. E há uma fortaleza extrema dentro de cada uma. Mas até os fortes viram ruínas e, em dadas circunstâncias, ainda precisam parecer intactos.

Essa era eu sempre que ia à UTI visitar Juliana e Joana. Enquanto me paramentava na ante-sala, soltava um choro doído. Quando abria a porta, vestia-me do maior sorriso e íamos conversar. “Oi, filha, mamãe está aqui”, para uma. “Oi, filha…”, para a outra.

Assim fui orientada pelas enfermeiras. “Não chore na frente delas. Sentem tudo”. Acredito. Obedeci. Elas estavam frágeis. Eu estava um caco. Só a demonstração de intensa confiança poderia colar nossos pedaços.

Relutei em receber alta hospitalar. Esperava sairmos todos juntos. Cinco dias depois do parto, fomos para casa. Entramos quatro, saímos três. Juliana permaneceria na UTI – com a incubadora identificada pelo nome, caprichosamente desenhado pelo pai Luis Sérgio, tal qual era a da irmã – com sessões de fonoaudiologia para que aprendesse a sugar e até que um leve sopro no coração cedesse.

Naqueles dias, muita coisa parecia sem sentido como as duas bonecas de porcela do enfeite de porta da maternidade diante do quarto vazio. Ou a ausência da clássica foto de família reunida no hospital. Vivemos um apartheid. O que preenche essas lacunas?

Muitos episódios sucederam ao dia em que nos reunimos novamente em casa. Quando preciso, eu fingia uma firmeza que faltava nelas em tônus muscular. Até que um dia não consegui.

Aos quatro meses, Juliana finalmente conseguiu segurar a perna da tartaruga Rebeca (foto do post), um bichinho de pelúcia que ficava a poucos centímetros das mãos dela dentro do berço. Eu tinha a dimensão daquele pequeno gesto.

Peguei-a no colo e liberei. Era um choro de vitória. Ela e Joana mereciam saber e sentir aquilo. Nem sempre a força está comigo. Mas elas estão. Isso é o bastante.

▫️Isabela Martin, mãe da Joana e da Juliana, é diretora de Jornalismo e Esportes da Jangadeiro.