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por Isabela Martin - 12/05/2024 às 17:19
Das mulheres que nunca se imaginaram mãe eu era o oposto. Nunca me idealizei em outro papel principal. A maternidade não veio facilmente. E, quando aconteceu, após uma bem-sucedida fertilização in vitro (FIV), foi em dose dupla. A alegria e a barriga não cabiam em mim.
O sonho quase virou pesadelo (ou virou). Eram perfeitas, exceto por aspectos que intrigaram os médicos ainda na sala de parto, como a hipersensibilidade ao toque, ao som e à luz que desencadeavam “abalos”, reações que pareciam sustos. UTI. Fim do sonho. Minhas filhas tinham uma condição especial. Mas não sabíamos o quê.
Tudo o que vem depois disso – especialmente nos primeiros meses – foi tormenta na escuridão, ausência de diagnóstico, de explicação. Tudo o que veio junto e depois da tormenta é amor, abnegação, persistência, fé e uma força que só aquele amor é capaz de gerar.
Até terem quase 14 anos, não tínhamos diagnóstico. Vivemos o “nosso normal”. Uma vida com rotina como a de outras famílias, somada a sessões de terapia ocupacional para trabalhar o atraso de desenvolvimento neuropsicomotor, hipotonia global, sem falar nas dúvidas sobre a parte cognitiva.
Minha maternidade foi inaugurada como todas as outras: com sorrisos permeados por lágrimas, com alegria e também dor, com amor por amar. Eu era a plenitude por tê-las comigo. Mas havia interrogações. Seja lá o que for, tive culpa? Foi consequência da FIV? Vão sobreviver? Se sim, o que esperar do futuro?
Em fevereiro de 2020, tivemos finalmente o diagnóstico. Elas nasceram com uma mutação genética. Era um bico de luz no túnel percorrido. O que esperar dali pra frente? Os desafios seguem. São diários. Porém, não é mais escuridão o que vejo adiante. Elas são faróis. Reluzem sabedoria e bondade. Elas são a própria luz que procurávamos. Com elas, qualquer ponto é uma exclamação.
Nas próximas semanas, compartilharei com vocês sobre a mãe que morreu em mim quando elas nasceram e a mãe que nasceu em mim a partir dessa experiência de amor e vida.
▫️ Isabela Martin, mãe da Joana e da Juliana, é diretora de Jornalismo e Esportes da Jangadeiro.
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