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Cada um tem a dose de coragem que lhe cabe; eu descubro a minha desde que me tornei mãe

por Isabela Martin - 16/06/2024 às 12:10

Por Isabela Martin

A maternidade me transformou. Novas porções passaram a fazer parte de mim, ora espremendo partes que me faziam mais frágeis, ora trazendo à tona memórias gravadas da maternidade que me criou.

Já me peguei repetindo padrões e comportamentos que criticava, mas também me vejo possuída pela mesma coragem insana de lutar com minhas filhas e por elas, assim como minha mãe fez pelos cinco filhos que criou praticamente sozinha.

Nessa vida, cada um tem a dose de coragem que lhe cabe. Descubro a minha desde que me tornei mãe de Joana e Juliana. Tudo o que tivemos que encarar até aqui exigiu muito de nós e isso é transformador.

Certa vez, quando tinha uns 9 anos, em meio a um diálogo, Joana vaticinou: “Deus espera da gente um pouco de coragem”. Não importa a sua crença ou se tem alguma. Essa frase pode ser reescrita sem perder a essência: a vida espera da gente um pouco de coragem.

O que uma criança sabe sobre isso? Se você foi uma recém-nascida que precisou encarar terapia ocupacional com manobras que te deixassem irritada, que precisou ser ensinada a engatinhar, a sentar, a enfrentar as limitações para subir num escorregador ou ganhar confiança a descer degraus, entenderia que – para cada situação dessa – o mais fácil era a inércia.

As meninas repetiram a 1ª série do fundamental. Cada vez que pegava as tarefas de casa, entrava em pânico. Sem saber ler, tampouco escrever, Juliana desenhava bolinhas no local das respostas. Sim, elas entendem de coragem. Coragem é não sucumbir ao desespero, mesmo que se perca a força e a confiança na nossa capacidade de superação.

Houve momentos assim. Um deles foi quando Joana, aos dois meses, chorou por quase duas horas: durante a sessão de estimulação precoce e por toda hora seguinte. Lembro de segurá-la no colo perto da janela da sala, sem saber mais o que fazer. Diante dos gritos inconsoláveis, me fechei no meu silêncio, apática. Naquele momento eu não sentia nada, nem dor, nem dó. Eu só queria colo. Coragem é resistir pelo que vale à pena ser conquistado.

▫️Isabela Martin, mãe da Joana e da Juliana, é diretora de Jornalismo e Esportes da Jangadeiro.

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